Neste domingo (22/9), a primavera tomou lugar do inverno, que foi marcado por seca severa e incêndios no agronegócio e nas florestas nativas no Brasil. A estação, embora a mais colorida do ano, ainda desperta preocupação no setor, pois dias quentes e sem chuvas devem permanecer, podendo prejudicar o avanço de trabalhos de campo.
De acordo com as previsões da Climatempo, ainda é difícil definir como será a estação, mas a maior chance é de mais dias de temperaturas altas e novas ondas de calor.
“Esses fenômenos são difíceis de prever a longo prazo, mas é possível que, em outubro ou novembro, episódios de calor intenso voltem a ocorrer, aumentando os alertas”, avisa a consultoria de meteorologia.
No caso da soja, por exemplo, mesmo após o vazio sanitário, produtores decidiram atrasar o plantio devido à falta de chuvas. No Paraná, em algumas cidades como Toledo, foi dada largada a semeadura, mesmo com a estiagem. Há expectativa de que sejam 5,8 milhões de hectares do grão no Estado, o que seria a maior área de oleaginosa da história.
Entretanto, a produtividade e o o volume de produção geram dúvidas entre produtores. No Sudeste, em Minas Gerais e em São Paulo, cafeicultores também estão preocupados com os estágios de desenvolvimento das plantas de café, que, em muitas propriedades, já tiveram a primeira floração antecipada durante o inverno, o que pode atrapalhar a formação do fruto e do grão.
A produtora de Vanessa Moreno, de Ibiraci (MG), relata que nos últimos anos a produção média de café em seus 74 hectares era de 3,4 mil sacas de 60 quilos, mas o número vem caindo devido as alterações climáticas. “Esse ano, nosso café foi atingido pelo fogo, terá que ser arrancado para colocar outra muda no lugar”, conta à Globo Rural.
O cenário poderia ser revertido se houver chuva, como se espera para o início de outubro. Mas as incógnitas permanecem, inclusive para os produtores de cana-de-açúcar, que vivenciaram recentemente incêndios drásticos, cujo prejuízo só em São Paulo ultrapassa R$ 1,2 bilhão.
Veja o que acontece em cada região
No Norte do país, a chamada “estação do verão amazônico” continua até novembro, estendendo o período de calor extremo nessa região. Por lá, os quatro portos que foram o Arco Norte padecem com a estiagem e o baixo nível dos rios, o que prejudica a entrada e escoamento de produtos. A população ribeirinha tem tido dificuldades para transportar seus alimentos, cuja venda é para subsistência e muitas barcaças chegam a atolar, como já relatou a Globo Rural em reportagem.
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“Durante o verão amazônico, a combinação de dias mais longos, maior incidência de radiação solar e umidade em declínio resulta em temperaturas consistentemente acima da média. Cidades no Amazonas, Pará e Acre poderão registrar temperaturas elevadas durante toda a primavera”, prevê a Climatempo.
No Nordeste, a atuação do “B-R-O-BRÓ”, fenômeno climático típico dos meses de setembro a dezembro, continuará a elevar as temperaturas em estados como Piauí, Maranhão e parte da Bahia. Nesse período a seca se intensifica e a velocidade dos ventos também.
Por um lado, para algumas produções de frutas pode ser uma boa condição de aceleração do ‘brix’ (dulçor da planta), mas para áreas de pastagem e de caprinocultura, criadores chegam a desistir e vender parte do rebanho, como foi registrado recentemente no Piauí.
Já no Centro-Oeste, a parte Norte, incluindo o norte de Mato Grosso e Goiás, também será impactada por massas de ar quente, elevando as temperaturas além do esperado.
“Em contraste, a faixa centro-sul do Brasil, que inclui São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, deverá registrar temperaturas mais dentro da normalidade, com pequenas variações acima da média. Isso se deve ao retorno mais consistente das chuvas, que ajudará a equilibrar o calor”, alenta a Climatempo.
E quando voltam as chuvas?
Segundo as estimativas da Climatempo, embora a primavera seja associada ao retorno das chuvas no Brasil, a distribuição da água será desigual em todo Brasil. Nas regiões Norte e Nordeste, e a porção norte do Centro-Oeste, a tendência é de que as chuvas continuem abaixo da média histórica.
“Isso se deve à influência contínua de massas de ar quentes e de fenômenos regionais como o verão amazônico e o B-R-O-BRÓ, que mantêm o clima mais seco nessas áreas”, explica o boletim deste domingo.
Já para as regiões Sudeste e o restante do Centro-Oeste, os modelos climáticos indicam boas notícias: haverá chuvas mais frequentes e acima da média para a estação com retorno de frentes frias e a atuação de cavados – áreas alongadas de baixa pressão. O alívio para seca prolongada deve começar nos últimos dias de setembro e início de outubro.
“Uma das previsões mais aguardadas é a possível formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) em dezembro, um fenômeno que, quando ativo, provoca chuvas intensas e persistentes em grandes partes do Brasil, especialmente no Sudeste e Centro-Oeste. Isso poderá ser um ponto de alívio para regiões que sofrem com a estiagem desde o outono”, acrescenta a Climatempo.
O Estado do Rio Grande do Sul, como uma exceção, deve continuar em alerta para a seca, pois os indicadores mostram chuvas abaixo da média. De acordo com a consultoria, ” a explicação para essa tendência é a condição do Oceano Pacífico, que está mais frio do que o habitual, um fator que historicamente impacta negativamente o volume de chuvas no Estado”.
Fuligem e chuva preta devem continuar?
A fumaça que paira sobre a atmosfera devido aos incêndios em diversas regiões no Brasil e a fuligem presente em vários solos, o que gerou poluição e mais preocupação entre produtores, deve dar um fôlego na primeira quinzena de outubro, segundo as previsões.
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“Nesse período, a faixa que se estende do oeste de Rondônia ao oeste de Mato Grosso do Sul verá o retorno das chuvas, que irão se intensificar nas semanas seguintes”, aponta a Climatempo.
O retorno mais regular das chuvas está previsto para a segunda quinzena de outubro, o que trará um alívio significativo para as queimadas e para a qualidade do ar. “A primavera, com suas características típicas de chuvas mais frequentes, deverá limpar o cenário de fumaça, ajudando a reduzir os impactos negativos que o Brasil enfrentou nos últimos meses”, acrescenta o boletim.
Embora muitos produtores de soja atrasaram seu calendário de plantio pela falta de chuva, em algumas cidades paranaenses, como Toledo, foi dada a largada na semeadura porque uma precipitação espaçada deixou uma umidade no solo. Este ano, espera-se que 5,8 milhões de hectares sejam plantados, o maior número da história no Estado, segundo o Deral.
Neste momento, foram plantados apenas 30 mil hectares, concentrados na região Oeste do Paraná, onde houve chuva. O vazio sanitário terminou no dia 31 de agosto, mas o atraso do plantio prevaleceu. A previsão do Deral é que a safra renda mais de 22 milhões de toneladas, o que não é recorde, mas pode superar 23 milhões de toneladas se for ótima safra.
A dúvida, no entanto, é sobre a produtividade por hectare e o volume total que será colhido com qualidade para comercialização da safra 2024/25, nacional e internacionalmente.