Região Centro-Oeste, 15 de maio de 2025

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Bezerros geneticamente editados nascem pela primeira vez no Brasil

Animais da raça Angus foram ‘programados’ para terem pelos curtos e lisos, mais resistentes ao calor
Bezerros geneticamente editados para terem pelo curto e liso Rubens Neiva/Embrapa

Cinco bezerros geneticamente editados a partir de embriões fecundados in vitro nasceram no Brasil. Os animais, da raça Angus, são os primeiros da América Latina nascidos a partir da  técnica CRISPR/Cas9, informou a Embrapa, que realizou o projeto em parceria com a Associação Brasileira de Angus. O objetivo é criar bovinos mais resilientes às altas temperaturas e às mudanças climáticas. De acordo com a Embrapa Gado de Leite (MG), os animais nasceram entre o fim de março e início de abril e carregam todas as características desejadas, como os pêlos curtos e lisos para maior resiliência ao calor.

A técnica usada é considerada inovadora para bovinos e promete impulsionar a adaptação de raças produtivas, como Angus e Holandesa, às condições tropicais do país. A expectativa é que esses animais sofram menos com o estresse térmico, o que resulta em melhor bem-estar e, consequentemente, em maior produtividade.

A edição foi realizada com a técnica CRISPR/Cas9, que vem sendo chamada de “melhoramento genético de precisão”. Segundo o pesquisador Luiz Sérgio de Almeida Camargo, a ferramenta foi adaptada pela ciência a partir de um sistema natural encontrado em bactérias. “O CRISPR/Cas9 funciona como uma espécie de tesoura genética, capaz de editar sequências no DNA de maneira precisa, e que pode ser usada para melhorar a saúde e o bem-estar animal bem como promover características de interesse econômico”, explica.

Com a tecnologia, é possível introduzir mutações benéficas diretamente nos embriões, sem necessidade de cruzamentos tradicionais que poderiam levar gerações para fixar as características desejadas. O projeto focou na edição do gene receptor da prolactina, relacionado ao controle da temperatura corporal em bovinos.

As mutações no gene receptor da prolactina provocam o desenvolvimento de pelos mais curtos e lisos, que ajudam a reduzir a temperatura corporal dos animais. Essa característica é natural em algumas raças adaptadas ao clima tropical da América Latina, mas está ausente em raças puras de alta produtividade, como a Angus ou a Holandesa.

De acordo com Camargo, dois dos bezerros editados apresentam pelos curtos e lisos, resultado de mais de 90% de edição genética nos folículos pilosos. “Os resultados obtidos já são suficientes para que os animais apresentem a característica desejada”, afirma o pesquisador, destacando que as pesquisas continuam para aprimorar a eficiência do processo.

A edição genética foi realizada em embriões por meio de um processo chamado eletroporação de zigotos. Nesse método, pulsos elétricos de curta duração são aplicados para abrir temporariamente a membrana do zigoto (a célula resultante da união do óvulo com o espermatozoide), permitindo a entrada das moléculas que vão promover a edição.

Essa técnica é considerada menos invasiva e mais prática do que outros métodos tradicionais usados para edição gênica, e os estudos para sua aplicação em zigotos bovinos conduzidos pela Embrapa estão mostrando que ela pode ser mais eficiente e menos custosa.

Com a edição, espera-se que os animais da raça Angus apresentem menor estresse térmico e maior capacidade produtiva e reprodutiva em ambientes quentes e úmidos. Essa adaptação é cada vez mais necessária diante dos cenários previstos de aquecimento global. “A capacidade de resistir melhor ao calor traz ganhos diretos para o bem-estar dos animais e também para a produtividade, beneficiando os produtores”, reforça Camargo.

Fonte: AgroBand

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