A partir de 2022, a Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol) passou a transformar dejetos de suínos e resíduos industriais em biogás, gerando 1 megawatt de energia por hora. Isso é suficiente para operar suas quatro unidades de criação de suínos com cerca de 20 mil matrizes no total. Segundo Celso Brasil, gerente ambiental, o sistema anterior de compostagem, embora correto, gerava emissões de gases de efeito estufa. Com a mudança, a cooperativa evitou que 44 mil toneladas de carbono fossem lançadas na atmosfera.
A Copacol investiu R$ 16 milhões, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para transformar resíduos em biogás, após extensas pesquisas para identificar o potencial energético de cada resíduo, conforme explicou Celso Brasil. O retorno previsto, inicialmente em 4 anos, deve ocorrer em 5 a 6 anos.
“O custo operacional ficou um pouco acima do projetado, mas ainda viável. O próximo passo é olhar para o biometano”, afirma o gerente ambiental, lembrando que os estudos para esse tipo de biogás estão em andamento e demandam alto investimento em pesquisa.
Potencial
Iniciativas como a da Copacol ainda são raras, avalia Mauro Mattoso, chefe do Departamento do Complexo Alimentar e Biocombustíveis do BNDES. Ele destaca que a produção de biogás para energia tem origem principalmente em aterros sanitários, começando a ser utilizada em usinas de cana-de-açúcar devido à vinhaça e, mais recentemente, por frigoríficos.
“O Brasil tem um potencial gigantesco de produção. Já temos a tecnologia, temos empresas que fazem, temos empresas que produzem os equipamentos necessários. O que precisa é estimular”, ressalta Mattoso, reforçando que o BNDES oferece a linha Fundo Clima para projetos de transição climática, como biogás e biometano.
ESG e inovação
Além de uma oportunidade financeira, seja em redução de custos ou em facilidade na tomada de crédito rural, a implementação de boas práticas de sustentabilidade no campo garante à produção agropecuária a entrada em mercados internacionais e uma boa imagem para o consumidor, cada vez mais exigente e consciente da escassez de recursos naturais e das mudanças climáticas.
A boa notícia é que os agricultores brasileiros estão abertos à inovação e lideram a implementação de boas práticas no mundo. “Pesquisas recentes mostraram, por exemplo, que o nosso país adota, em média, dez diretrizes de agricultura regenerativa, enquanto a média em outros países é de sete”, afirma Felipe Albuquerque, diretor de Sustentabilidade da Divisão Agrícola da Bayer para a América Latina.
O executivo cita como exemplo fazendas com três ou quatro safras por ano, o que mantém o solo sempre coberto e conseguem produzir até o dobro da média nacional. “Além de reduzir as emissões, a agricultura pode ser parte da solução sequestrando esse carbono. Temos na ordem de mais de 1 tonelada de carbono equivalente sequestrado por ano.” Para isso, ele ressalta que é preciso envolvimento de diversos agentes, como produtores rurais, empresas e esfera pública. “Estamos no caminho certo, mas esta pauta exige uma união de esforços”, conclui.
Agricultura regenerativa
Franciele Caixeta, coordenadora de Desenvolvimento Agro da General Mills, acredita que a chave para uma mudança de mentalidade e a adoção de práticas sustentáveis está na saúde do solo. “O solo é a grande estrela da agricultura regenerativa. Ao focarmos na saúde do solo, todos ganham – aumentamos a matéria orgânica, fixamos mais carbono, reduzimos doenças e elevamos a produtividade.”
Especialistas ressaltam que é preciso melhorar a comunicação sobre as práticas adotadas no Brasil. “O mundo cobra muito do Brasil, e nosso desafio é comunicar melhor. O conceito de sustentabilidade e agricultura regenerativa já é praticado pelos agricultores brasileiros. Muitas práticas promovidas globalmente são usadas aqui há bastante tempo”, afirma Raphael Costa, diretor de Originação e Insumos da ADM no Brasil.
Nessa discussão, o sócio-diretor da Raiar Orgânicos, Luis Barbieri, destaca a importância de expor os desafios do setor, sem deixar de reconhecer os avanços. “Precisamos colocar na mesa os desafios, mas também mostrar as coisas boas que fazemos, reconhecendo que ainda há muito a evoluir. Se não apresentamos os desafios, deixamos espaço para críticas de quem não conhece como o setor realmente funciona.”
Fonte: https://agro.estadao.com.br/sustentabilidade/como-o-esg-esta-crescendo-no-agro