Presente em praticamente todos os lares, o café transcendeu seu papel histórico de simples estimulante matinal para assumir a posição de bebida mais consumida no mundo, superando até mesmo a água em alguns contextos culturais. A xícara de café, hoje, conecta rituais sociais, movimentos gastronômicos e práticas produtivas em múltiplos continentes.
Com raízes na Etiópia, o café percorreu séculos e fronteiras até consolidar-se como parte indissociável da vida moderna. Sua versatilidade permitiu múltiplas formas de preparo, aromas e paladares, adaptando-se a gostos e hábitos locais. Cafeterias especializadas, métodos de extração refinados e seleções de microlotes elevaram a bebida a um novo patamar de sofisticação.
Brasil: solo fértil da cafeicultura global
O Brasil ocupa lugar de destaque nesse cenário. Maior produtor e exportador mundial, o país reúne tradição, escala e inovação na cafeicultura. Os principais polos de produção estão concentrados em Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Bahia, regiões que combinam condições climáticas ideais, altitude e conhecimento técnico acumulado ao longo de gerações.
A variedade arábica, cultivada sobretudo em áreas de montanha, é reconhecida por sua suavidade e complexidade aromática. Já o café robusta — ou conilon — ganha espaço com produtividade crescente e perfil sensorial valorizado na indústria. O avanço das práticas sustentáveis e dos processos de pós-colheita contribuiu para ampliar a qualidade do produto nacional, consolidando sua presença nos mercados mais exigentes.
Da commodity ao conceito
Se no passado o café brasileiro era tratado majoritariamente como commodity, o cenário atual revela uma mudança de paradigma. Microlotes de alta pontuação ganham espaço em cafeterias de renome, e produtores investem em fermentações controladas, colheita seletiva e rastreabilidade total. O país tem se destacado também na conquista de denominações de origem, como a das Matas de Rondônia, que valoriza a identidade do robusta amazônico.
Essa transformação tem reflexos diretos na valorização do campo, no estímulo à pesquisa agronômica e na abertura de novas oportunidades para pequenos e médios cafeicultores. Além disso, impulsiona o consumo interno, que já ultrapassa 20 milhões de sacas anuais, posicionando o Brasil como o segundo maior consumidor global da bebida.
A experiência do café além da xícara
No universo gastronômico, o café passou a ser tratado com o mesmo esmero dedicado ao vinho ou ao azeite de oliva. Restaurantes e cafeterias apostam na apresentação de métodos filtrados, extrações alternativas e harmonizações com pratos autorais. Grãos selecionados de origem única são preparados à mesa diante do cliente, com técnicas como V60, Chemex, Kalita e Aeropress.
As cartas de café se expandem, incorporando variedades como o Geisha, com origem etíope e perfil floral marcante, até robustas amazônicos de perfil intenso e encorpado. Em muitos estabelecimentos, o frescor dos grãos é garantido por torrefações próprias, feitas semanalmente, num esforço de manter intactas as notas sensoriais da bebida.
O café como elo entre campo, cidade e cultura
Celebrar o Dia Mundial do Café é reconhecer sua trajetória como elo entre a agricultura e a vida urbana, entre a tradição e a inovação. A bebida tornou-se parte da identidade brasileira, impulsionando cadeias produtivas, promovendo a sustentabilidade e reunindo pessoas em torno de uma mesa, de uma ideia ou de um novo começo.
Por: Divino Onaldo/Agro&Prosa