Região Centro-Oeste, 6 de fevereiro de 2025

Escolinha para bovinos: a importância de acostumar a boiada ao manejo – da remanga ao tronco

Foto: BeefPoint

Olá, amigo pecuarista. Você deve estar achando muito estranho o título do nosso artigo de hoje. Como assim uma escola para bovinos? Pois eu te afirmo que essa pode ser a melhor alternativa para os constantes empacamentos, comportamentos agressivos e motivos de piadas da sua fazenda, como: “nelore sendo nelore”. A eficiência da “escolinha” para o gado é indiscutível. O método de condicionamento dos animais às instalações do curral é seguro, e oferece um manejo sem grandes surpresas desagradáveis para os funcionários da propriedade e também para o bolso do produtor. Ensinar aos bovinos que a passagem pela remanga, seringa e tronco de contenção é uma experiência nova e associada à uma sensação agradável (de liberdade, segurança e bem-estar) evitará o empacamento de alguns animais e garantirá um manejo mais tranquilo, sem maiores incidentes. Quer aprender como montar a escolinha para seus bois, vacas, novilhas, garrotes e bezerros dentro do curral? Então, bora aprender que o tempo urge. E o agro não para!

A lida nas fazendas de corte requer a realização de várias atividades dentro de currais de manejo, especialmente nas propriedades de ciclo completo (cria, recria e terminação). São atividades muitas vezes estressantes para o gado, que necessitam de maior controle sobre os animais, como: vacinação, aplicação de vermífugos, casqueamento, inseminação artificial, cura de umbigo, castração, mochação e outras mais. Mas… o seu manejo com a boiada de forma alguma precisa ser sempre assim. Ou seja, todo esse estresse, e dor em alguns casos, pode ser reduzido, minimizado com a adoção de boas práticas que estão alinhadas ao bem-estar dos animais.

Foto: Agriconline

Processos que devemos adotar:

  • 1° procedimento: RESPEITO PELOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO. Respeitá-los como animais que têm emoções, sentem dor, medo, contentamento e ansiedade. Do mesmo modo que nós, também sentem fome, sede, frio e calor.
  • 2° procedimento: ADOTAR O BEM-ESTAR ANIMAL. Adote estratégias que valorizem o bem-estar dos bovinos e ofereça uma ambientação que favoreça a manifestação de seus comportamentos naturais (ruminar, pastar, se alimentar, brincar, formar grupos de interação social e se reproduzir).
  • 3° procedimento:  AMANSAR OS ANIMAIS NO PASTO. Quando o boi chega mais calmo até o curral, a probabilidade que ele se mantenha nessa condição psicológica é maior do que se ele for conduzido até o curral por meio de gritos, ferrões e cutucões com varas de madeira. Então, movimente seu corpo de forma suave ao lidar com os animais para evitar sustos, acidentes e estresse.
  • 4° procedimento: PASSAR OS BOVINOS VÁRIAS VEZES PELO CURRAL.Conduza a boiada tranquilamente do curral até a área do manejo nas instalações – seringa, tronco e/ou brete. A partir do momento em que os peões expõem os animais repetidamente às instalações, estes percebem que não é um lugar ruim (que causa sofrimento, dor, medo), e se acostumam com o ambiente.
  • 5° procedimento: EVITAR PONTOS DE DISTRAÇÃO. Deve-se evitar ruídos, som alto, movimento de muitas pessoas, gargalhadas e risos estridentes, objetos estranhos (ex.: vassouras, peças coloridas, cocho de comida), áreas com sombras (se parecem com buracos no solo) ou pouco iluminadas, cheiro forte de produtos químicos e estruturas mal projetadas (pisos, troncos e bretes).
  • 6° procedimento: PASSAGEM PELO TRONCO. Essa passagem deve ser feita de 2 a 3 animais por vez para evitar distração ou competição entre os bovinos. De nada adianta uma grande quantidade de cabeças amontoada dentro da seringa. Lembre-se que a fluidez no processo é mais importante do que a velocidade a qualquer custo, que pode ocasionar acidentes graves, destruição e danos às instalações.

ATENÇÃO: nesses dias de treino, ambientação e condicionamento nenhum manejo deverá ser realizado com o gado.

Adotando essas práticas simples, mas poderosas, eficientes e de baixíssimo custo, em poucas semanas os colaboradores da fazenda criarão uma relação de confiança entre humanos, os animais e o ambiente do curral, trazendo um manejo menos estressante, mais produtivo e seguro para todos os envolvidos no processo.

  • E o uso das tão polêmicas bandeirinhas pelo peão?

As bandeirinhas geralmente são utilizadas como uma extensão do corpo do peão, guiando, dessa forma, o gado para a direção que se quer que ele vá. Nesse tipo de manejo, o ideal é buscar por boiadeiros que possuam uma personalidade mais tranquila e calma, pois durante os primeiros manejos com bandeiras a boiada vai parar, empacar, deitar e se distrair, até que se acostume às novas regras do jogo. Com o condicionamento, os bovinos vão se acostumando e o trabalho passa a fluir com mais qualidade, agilidade e rapidez. Portanto, isso não é “gasto de tempo”, mas sim investimento para o seu negócio.

Foto: BeefPoint

E vamos finalizar nossa prosa de hoje com a técnica nada nas mãos. Essa técnica, conforme o nome diz, não utiliza objetos (bandeiras, varas ou chicotes), e sim o entendimento do comportamento animal para conduzi-los de acordo com a zona de fuga e ponto de balanço.

ZONA DE FUGA: menor distância que separa uma pessoa ou predador que está se aproximando, antes do bovino iniciar a fuga. Se o peão adentra a zona de fuga, o boi começa a se afastar. Caminhe devagar até o boi, quando ele se movimentar, aí estará a medida dessa zona para os seus animais.

PONTO DE BALANÇO: ponto na altura da paleta (ombro) do bovino. Se o peão se move para trás da paleta, o boi vai para frente. Se o peão se move para a frente da paleta, o boi recua. Faça o teste você mesmo! Esse é um modo inteligente de direcionar o movimento dos animais de forma ágil e segura.

Todas as formas de manejo apresentadas acima, fazem parte da lida racional com os bovinos. Foram técnicas desenvolvidas e baseadas no comportamento animal para que os colaboradores da fazenda possam realizar o manejo do rebanho em currais; pensando sempre no bem-estar e na ausência de lesões nos animais. No final do processo, adquire-se mais confiança, segurança e conforto para os bovinos, em consequência, ganha-se em rentabilidade e lucro líquido na propriedade!  

E se você quiser saber mais sobre como treinar seus colaboradores (peões, veterinários, técnicos agropecuários, zootecnistas), existem muitas consultorias que já são especializadas no treinamento e capacitação de pessoas para o manejo racional no campo. Como, por exemplo, a BEA Consultoria que tem realizado esses cursos pelo Brasil. De início, a equipe de peões será um pouco resistente às mudanças, mas o permanente monitoramento ajudará na criação do hábito, e logo, vaqueiros e boiadeiros irão perceber o aumento de produtividade no rebanho, a maior conservação das instalações no curral e um ambiente mais leve, tranquilo e seguro de se trabalhar.

NOTA: o bem-estar animal é um assunto de preocupação crescente entre pesquisadores, pecuaristas e consumidores do mundo inteiro, principalmente devido ao imenso alcance das redes sociais em muitos países. ONG’s, institutos de proteção animal e santuários ecológicos cobram condutas humanitárias na produção de carne, leite e derivados; no transporte de animais (carga viva) e nos modelos de abate praticados dentro de frigoríficos regulamentados pelo governo. E aí, vamos seguir juntos nessa onda do mercado?

Por: Raquel Azevedo. Bióloga no mundo do agro. CRBio: 126402/02-D

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