Olá, amigo pecuarista. O ano de 2025 está generoso nas águas e você não pode deixar essa grande oportunidade passar em branco. “O cavalo arreado não passa duas vezes.” Então, bora que as boas oportunidades são únicas nessa vida. Em nosso artigo de hoje, vamos conversar um pouco sobre fertilização do pasto nas águas. Como você maneja o pasto nos meses de chuvas intensas de verão?
Como já foi abordado em matérias anteriores, as forrageiras são a base da alimentação dos bovinos de corte no Brasil, sendo as principais responsáveis pela maior parcela dos nutrientes consumidos e, consequentemente, o alimento de maior influência no ganho de peso durante as águas. Nosso território nacional, em sua maior parte, possui capim com uma alta adaptabilidade às condições de temperatura, umidade, luz solar, qualidade do solo, disponibilidade de água e nutrientes; a combinação única desses elementos proporciona um alto acúmulo de forragem durante a estação das águas, próximo a 100 Kg de MS / ha / dia. As chuvas são indispensáveis e de extrema importância para o sucesso do manejo na utilização de forrageiras tropicais aqui no Brasil. Então, aproveite a oportunidade nos meses das águas!
Os capins tropicais podem manter-se produtivos por anos a fio, mas é necessário que o pecuarista faça o manejo correto, utilizando critérios técnicos para extrair das forrageiras o máximo de produtividade, considerando o equilíbrio ótimo entre pastejo em UA | produção de forrageira por hectare. Não tente fazer as coisas do seu jeito, acreditando literalmente naquele velho ditado que diz “Quem engorda o gado são os olhos do produtor”. Não basta achismos e improvisos, aprenda a ler as entrelinhas desse dito popular, ou seja, aquela mensagem que está oculta, aquilo que não foi falado de modo explícito. Os olhos do produtor, dentro do conceito Boi 777 se refere à importância da vigilância e do cuidado do produtor na criação do gado. Mais uma vez: o manejo do solo, o sanitário, de sanidade, de bem-estar animal, de nutrição, todos esses devidamente adequados à sua realidade econômica e ao seu sistema de produção.
Respeitando as características morfofisiológicas do solo que vamos listar abaixo, você já consegue alcançar uma pecuária de precisão que vai te levar a um próximo nível da produtividade bovina de corte em nosso país. São elas:
- Textura: refere-se à proporção de partículas de areia, silte e argila no solo. A textura afeta a capacidade de retenção de água e nutrientes.
- Estrutura: diz respeito à forma como as partículas do solo se agregam, formando torrões ou agregados. Uma boa estrutura melhora a aeração e a infiltração de água.
- Porosidade: relaciona-se à quantidade e ao tamanho dos poros no solo, que influenciam a circulação de ar e água.
- Densidade: solos compactados podem afetar o crescimento das raízes e a penetração de água.
- Matéria Orgânica: a presença de matéria orgânica é crucial para a fertilidade do solo, fornecendo nutrientes essenciais e melhorando a sua estrutura.
- pH do Solo: o pH influencia a disponibilidade de nutrientes para as plantas e a atividade microbiana. Geralmente, o pH neutro (em torno de 7) é o mais adequado.
- Capacidade de Troca Catiônica (CTC): refere-se à capacidade do solo de reter e trocar cátions, fornecendo mais nutrientes para as plantas.

Portanto, antes de quaisquer intervenções no solo, é de extrema importância que você faça a análise desse solo em um laboratório de referência no agronegócio. Isso evitará desperdícios, perda de dinheiro e muitas dores de cabeça dentro da sua atividade pecuária. Certamente a sua fazenda não é uma área de lazer para os finais de semana, nem o seu plantel um brinquedo vivo para passar o tempo e se distrair. Então, meu amigo, realize o quanto antes essa análise em toda a extensão útil da sua propriedade, e extraia o melhor das suas forrageiras, considerando, é claro:
- As exigências climáticas locais: temperatura, regime de chuvas, umidade do ar, oscilação de temperatura dia / noite, incidência de luz solar, ventos e calor.
- A presença de nutrientes essenciais: macronutrientes (como nitrogênio, fósforo e potássio) e micronutrientes (como ferro, manganês e zinco).
- A presença de matéria orgânica: aumenta a capacidade de retenção de água e fornece nutrientes essenciais à planta.
- O pH ideal: varia entre 6 e 7, pois essa faixa permite a melhor disponibilidade de nutrientes no solo.
- A capacidade de troca catiônica (CTC): solos com alta CTC são geralmente mais férteis, retendo e disponibilizando mais minerais no solo.
- A estrutura do solo: facilita a aeração, a infiltração de água e o crescimento das raízes.
Observando-se a escolha de espécies e cultivares de forrageiras mais adaptadas às exigências climáticas da sua região, considerando o potencial de fertilidade natural do solo e as exigências específicas da forrageira escolhida, os capins tropicais se manterão altamente produtivos por muito mais tempo. E tudo isso, sem que você tenha de gastar rios de dinheiro investindo em forrageiras que consumirão mais insumos de adubagem, irrigação, controle de pragas e daninhas; justamente por não serem bem adaptadas aos fatores ambientais presentes no pasto da sua propriedade rural. Contudo, sabemos que a maioria das pastagens do Brasil está em áreas de baixa fertilidade – nos latossolos (solos avermelhados com alto teor de óxidos de ferro e alumínio, especialmente no Cerrado) – e que são utilizadas tradicionalmente, sem a utilização de tecnologias, o que a médio e longo prazo torna essas pastagens degradadas, gerando baixa produtividade para a pecuária nacional.
Além dos cuidados com a fertilidade do solo, o manejo do pasto é de fato o principal determinante da degradação ou manutenção da pastagem. Um manejo inadequado propiciará o crescimento e a proliferação de daninhas (plantas invasoras indesejáveis), a erosão do solo e a lixiviação, a perda de fertilidade e a redução da capacidade de suporte.
Vamos relembrar aqui um ponto importante? A utilização da adubação isoladamente não é garantia de alta produtividade animal. E por quê? Mais uma vez: a adubação e demais níveis tecnológicos alteram a produtividade e o valor nutritivo das plantas forrageiras. Muito bom! Mas… você, pecuarista, precisa fazer e muito bem o manejo do pastejo, pois, segundo Hodgson (1990), tem que existir o equilíbrio entre três etapas do processo de produção animal em pastagens:
- Crescimento da forragem
- Utilização da forragem produzida
- Conversão desta em produto animal
Então, comece as atividades pelo manejo da pastagem antes de implementar quaisquer tecnologias para maximizar a produção de forragem. É bastante intuitivo de se perceber que o aumento na produtividade de forragem será malsucedido, se não houver a eficiência no consumo pelos bovinos. Após os ajustes no manejo do pasto, siga para a próxima etapa que é a adubação. Nessa fase, conhecer a fertilidade natural do solo é de fundamental importância, pois ela é um dos principais fatores que determinam a produção e o valor nutritivo da forragem (CORSI; NUSSIO, 1992).
Aqui estão algumas orientações para ajudá-lo quanto aos primeiros passos a serem dados rumo a uma pecuária altamente produtiva:
CALAGEM DO SOLO: eleva o pH do solo, neutraliza ou reduz os efeitos tóxicos do alumínio e do manganês, aumenta o sistema radicular (raízes) da planta, melhorando a absorção dos nutrientes do solo. Atenção ao tipo de calcário utilizado, forma de aplicação e dose!
Experimentos realizados em campo por Oliveira et al. (2003) para avaliar a forma de aplicação (incorporado no solo através de gradagem ou não incorporado) e o tipo de calcário utilizado – com poder relativo de neutralização total (PRNT) de 55, 70 ou 90 que são diferentes graus de moagem (da mesma rocha de calcário), demonstraram que na recuperação de pastagens de Brachiaria decumbens degradadas: a gradagem prejudicou o crescimento das raízes da forrageira e reduziu os teores de matéria orgânica no solo; e o calcário de PRNT mais baixo (55) aumentou a produção de raízes e proporcionou as maiores concentrações de cálcio e magnésio no solo.
PRESENÇA DE FÓSFORO E NITROGÊNIO: são os principais nutrientes associados à degradação de pastagens e produção de forragem. A eficiência dessa adubação depende de: espécie cultivada, textura do solo, minerais da argila, acidez do solo, dose, fonte, granulometria e forma de aplicação dos fertilizantes. Atenção ao sistema solo-planta que é muito complexo! A aplicação de fertilizantes fosfatados deve ser depois da correção da acidez do solo visando a redução do custo, uma vez que as fontes de fósforo são uma das estratégias de adubação que requer maior investimento, devido a seu alto custo por tonelada.

Estudos realizados por Couto et al. (1988) para avaliar a eficiência do uso de fósforo de fertilizantes fosfatados solúveis (com ou sem o uso de calagem) demonstraram que na dose de 180 Kg de P2O5 / ha e sem a calagem: a produção de forragem (Andropogon gayanus) foi de 4,4 t / ha de MS. Com a utilização de calagem, essa mesma produção de forragem foi obtida utilizando-se apenas 60 Kg de P2O5 / ha, o que representa uma economia de 66% na utilização de fósforo. Quanto à resposta animal, pastos adubados com 0 ou 90 Kg de nitrogênio / ha apresentaram taxa de lotação em torno de 4 UA / ha, enquanto pastos adubados com 180 e 270 Kg de nitrogênio / ha durante a estação chuvosa apresentaram taxa de lotação acima de 7 UA / ha com a manutenção da altura de pastejo do capim-Marandu em 25 cm.
E para encerrarmos a mossa prosa de hoje, queremos deixar bem claro para você, pecuarista brasileiro, que o acréscimo no valor nutritivo da forragem se deve grandemente ao acúmulo de massa de forragem. Ou seja, não direcione todo o seu foco e tempo para o uso de fertilizantes, pois é essa massa de forragem que permite maior taxa de lotação e maior produtividade por hectare. Em pastos brasileiros, formados por gramíneas de clima tropical, ganhar 7@ por animal durante a recria é altamente desafiador e depende muito da eficiência de uso do pasto produzido.
Logo, não se esqueça! Mantenha a alta disponibilidade de massa de forragem com valor nutritivo adequado, uma suplementação equilibrada nos cochos, água fresca e limpa nos bebedouros; proporcionando um consumo compatível com os requerimentos nutricionais do animal. Tenha uma pecuária mais rentável e sustentável, utilizando fertilizantes de modo eficiente, e com menos excreção de contaminantes organofosforados que podem contaminar o meio ambiente (inclusive os açudes onde a boiada bebe água).
Por: Raquel Azevedo/Bióloga no mundo do agro/CRBio: 126402/02-D