O maná, resina branca extraída de freixos da espécie Fraxinus ornus, voltou a ganhar destaque nas montanhas Madonie, na Sicília, graças aos esforços de agricultores locais como Giulio Gelardi.
Após quase desaparecer devido à urbanização e à industrialização no pós-guerra, o maná, conhecido historicamente como “ouro branco”, retornou aos campos e às cozinhas, além de conquistar espaço em produtos cosméticos e farmacêuticos.
Segundo registros do Parque Natural Madonie, a coleta do maná tem raízes profundas na cultura mediterrânea e é mencionada 17 vezes na Bíblia. No Livro do Êxodo, por exemplo, é descrito como um alimento celestial que sustentou os israelitas no deserto. Por séculos, o maná foi usado como remédio natural e adoçante, sendo comercializado intensamente entre os séculos 9 e 16.
Vale mencionar que essa tradição quase desapareceu após a Segunda Guerra Mundial, quando o manitol, principal composto do maná, passou a ser produzido de forma sintética. A retomada dessa prática centenária começou em 1985, quando Gelardi retornou a Pollina, sua cidade natal, e decidiu revitalizar a cultura do maná que havia aprendido com a família.
Ouro branco é tradição e inovação
A colheita do maná exige conhecimento técnico apurado e sensibilidade para identificar o momento ideal do corte na casca do freixo. Isso porque a produção da seiva depende de fatores climáticos e do ciclo natural da planta. Com base na observação e na intuição, produtores como Gelardi identificam sinais como o amarelecimento das folhas e rachaduras no solo para dar início à extração.
Outro detalhe importante é que Gelardi desenvolveu uma técnica de “maná limpo”, utilizando bicos de alumínio e linhas de pesca para evitar contaminações, dobrando sua produção. Com isso, o maná passou a ser fornecido a chefs renomados, confeiteiros, farmácias e até marcas de cosméticos como Biotherm e Yves Rocher.
Dessa forma, o maná voltou a figurar como ingrediente de destaque na culinária local. Restaurantes na Sicília passaram a incorporá-lo em pratos doces e salgados, explorando seu sabor único, semelhante à cana-de-açúcar com notas de amêndoa. Edições especiais de panetone, risotos e pratos com carnes passaram a contar com o toque sofisticado do “ouro branco”.