O manejo adequado dos suínos nas horas que antecedem o abate tem impacto direto na qualidade da carne e no bem-estar dos animais. A zootecnista Letícia Matoso, da Auster Nutrição Animal, afirma que cada etapa — desde o jejum até o descanso no frigorífico — exige atenção e padronização para garantir resultados positivos.
Entre os procedimentos fundamentais está o jejum alimentar, que deve ser iniciado entre 8 e 12 horas antes do abate. A prática reduz o risco de contaminações na carcaça e melhora a locomoção dos animais durante o transporte. “Nesse período, é importante garantir o acesso contínuo à água. Além disso, quando possível, o enriquecimento ambiental nas baias pode contribuir para manter o bem-estar”, aponta Letícia.
O tempo total de jejum — considerando as fases na granja, no transporte e no frigorífico — não deve ultrapassar 18 horas. Para isso, a propriedade precisa estar preparada. “Todos os obstáculos devem ser retirados. Os corredores precisam estar limpos e secos, e o embarcadouro deve contar com piso antiderrapante. Suínos são animais pesados e sedentários. O ambiente deve oferecer condições seguras para a movimentação”, explica.
Organização do transporte é ponto-chave
A preparação logística tem papel decisivo no sucesso do manejo. A avaliação da saúde dos animais nos dias que antecedem o embarque e a definição do número de veículos necessários são medidas que contribuem para a segurança e a eficiência do processo.
Um aspecto central é o cálculo da densidade de transporte, definido com base no peso vivo dos suínos. A fórmula recomendada pela Instrução Normativa nº 113 é: A=k x PV^0,667, onde PV representa o peso vivo em quilos e k é a constante 0,027. De acordo com esse parâmetro, um suíno de 124 kg exige cerca de 0,67 m² de área durante o transporte. “Esse espaço permite que o animal se deite lateralmente e ajuste a postura, o que favorece a termorregulação e reduz o risco de lesões ou mortalidade durante o deslocamento”, destaca a zootecnista.
Treinamento das equipes evita estresse e perdas
A qualidade da carne suína depende também da forma como os animais são conduzidos no momento do embarque. Equipes bem treinadas garantem um processo mais tranquilo e evitam situações de estresse. A recomendação é movimentar pequenos grupos de até oito suínos por vez, com o uso de tábuas de manejo ou lonas, evitando gritos ou estímulos agressivos.
No frigorífico, o desembarque precisa ser rápido e silencioso. As baias de descanso devem oferecer conforto térmico e acesso à água. A aspersão é uma prática recomendada para ajudar na recuperação dos suínos após o transporte.
“Os procedimentos de manejo devem priorizar o conforto dos animais e ser seguidos rigorosamente por todos os estabelecimentos de produção e processamento de carne. A qualidade final do produto depende de diversos fatores, como genética, sanidade e nutrição, mas, acima de tudo, da excelência na execução dos manejos em todas as etapas da produção nas granjas”, afirma Letícia Matoso.
Fonte: Agro em Campo