Olá, amigo pecuarista. Você sabia que as pastagens são uma das maiores vantagens do nosso sistema de produção? Talvez você não tenha pensado no fato de que essas vantagens se devam às grandes extensões de terra junto à oportunidade de produzir muito e com sustentabilidade. Atualmente, na pecuária tradicional, temos visto a entrega de carcaças com pouco ou nenhum acabamento, que não atende aos rígidos padrões dos grandes frigoríficos. Mas, se você está disposto a mudar a sua realidade, leia este artigo até o final e aprenda novas técnicas para mudar esse cenário nacional.
Os pecuaristas mais experientes e que estão há mais tempo na atividade sabem que os custos da montagem estrutural e das operações de funcionamento de um sistema de confinamento são muito altos. Ainda temos a variação no preço do volumoso suplementar, presença de mais problemas ambientais e de sanidade, além dos clássicos concentrados proteicos ou, de preços mais elevados ainda, os famosos proteico-energéticos. E, literalmente, você acaba entrando no “em um mato sem cachorro”. Porém, como para tudo nessa vida há uma solução possível, hoje já podemos realizar a TERMINAÇÃO A PASTO (TIP).
Na terminação intensiva a pasto, o bovino tem o consumo de forrageira gradativamente substituído por uma maior proporção de suplemento. Muita atenção aqui, pois a suplementação NÃO substitui a forragem, mas apenas COMPLEMENTA! Quando fornecemos um alto nível de suplementação para o gado (1,5 a 2% do peso corporal), há uma maior ingestão de proteínas, carboidratos (energia) e minerais; e isso faz com que os animais ganhem peso rapidamente, durante a terminação, nas águas e no período de seca. Nesse contexto, o pasto entrega aos bovinos fibras em quantidade suficiente para a manutenção da atividade ruminal. É indispensável ao pecuarista considerar que cada animal terá uma necessidade específica de consumo de forragem (MS), ou seja, a ingestão pelo regulada pelo próprio gado, individualmente. É óbvio que para bovinos padronizados (genética, peso, idade e outras categorias), o consumo será semelhante.
Bem, se você se interessou e deseja aproveitar ao máximo a potência das pastagens brasileiras, com um baixo custo de investimento e retorno ótimo, prepare-se para conhecer os principais pontos relacionados à TIP.
GMD – esse parâmetro pode gerar falsas conclusões por parte do pecuarista. O foco precisa ser no rendimento do ganho! Mas, por quê? O importante não é ter um animal mais pesado? Sim. Mas quem te falou que boi pesado é sinônimo de mais carne entregue no mercado?
No gráfico abaixo, você pode observar que os animais terminados a pasto tiveram maior rendimento de ganho de carcaça em relação ao peso vivo que ganharam durante o “período de engorda”. Ou seja, apesar do maior peso (GMD) dos animais em confinamento, os bovinos que receberam terminação a pasto foram os que tiveram maior aproveitamento de carcaça por quilo ganho. Animais a pasto apresentaram melhor desempenho.
- Esses experimentos foram realizados dentro de estritas normas de controle. E foram obtidas, durante o abate dos animais, as pesagens dos componentes que não fazem parte da carcaça, como: cabeça, patas, órgãos internos, ossos e outros. Além da pesagem dos conteúdos do trato gastrointestinal. Ambos os componentes explicam as diferenças entre os pesos nos sistemas de terminação em confinamento e a pasto.
- É interessante você, amigo pecuarista, notar pela imagem abaixo que o rúmen dos animais terminados intensivamente a pasto (TIP) tende a ser bem menor do que o rúmen dos animais terminados no confinamento. E é justamente essa diferença uma das prováveis causas da variação no rendimento do ganho nos dois sistemas de terminação.
- Essas diferenças no tamanho dos órgãos acontecem, provavelmente, pelo consumo de volumoso (fibras) e velocidade na taxa de passagem (tempo que o alimento fica dentro do TGI). Bovinos a pasto ingerem menores quantidades ou melhores qualidades de fibras presentes nas folhas por seletividade. E isso ocorre porque não estão confinados!
- Essa seletividade por folhas – realizada pelos bovinos soltos no pasto – causa o aumento na taxa de passagem do alimento (maior velocidade no TGI) e, como resultado nos temos a redução no conteúdo do trato gastrointestinal. A natureza providencia a adaptação do rúmen, reduzindo-o de tamanho. Isso evita desperdício de energia para o organismo do animal.
INSERIR NA FIGURA: conteúdo do TGI (80 vs. 104 g / Kg PC); peso de rúmen (36 vs. 43 g / Kg PC); peso de gordura visceral (8 vs. 10 g / Kg PC).

Como estamos no período das águas, vamos focar na terminação intensiva a pasto na estação das águas. Então, a partir de agora, preste muita atenção no que você precisará fazer nos próximos dias ou semanas, se já quiser garantir um aumento na sua produtividade nesse ciclo!
Dadas três estratégias nutricionais na terminação de bovinos a pasto durante as águas, observou-se que:
- Sal mineral fornecido na quantidade de 100 g / animal / dia, durante 140 dias. Em relação ao GMD em carcaça, os animais que receberam apenas sal mineral ganharam 374 g / dia. Um incremento total de 4@ no peso de carcaça desses bovinos.
- Suplemento energético na quantidade de 0,7% do PC / dia, durante 140 dias. Na fase inicial, os animais que receberam suplemento energético tiveram peso corporal (PC) superior aos animais que receberam sal mineral. Em relação ao GMD em carcaça, os animais que receberam energético a 0,7% ganharam 704 g / dia. Um incremento total de 7@ no peso de carcaça desses bovinos.
- Sal mineral nos primeiros 70 dias e suplementação de alto consumo a pasto (2% do PC / dia), durante mais 70 dias. A partir da fase de inserção da suplementação a 2%, observou-se o aumento mais veloz no ganho de peso. Em relação ao GMD em carcaça, os animais que receberam energético de alto consumo ganharam 847 g/ dia. Um incremento total de 9@ no peso de carcaça desses bovinos.
- Como nem tudo são flores, essas dietas com altos níveis de concentrado demandam cuidados; já que a presença desses ingredientes na dieta dos bovinos provoca muitas mudanças de comportamento, alterações na fisiologia animal e variações na flora microbiana. Para resolver esse problema, vamos a alguns procedimentos indispensáveis no manejo da TIP:
- Adote um protocolo de adaptação dos animais à dieta;
- Esse período é muito importante para o estabelecimento da população microbiana ruminal;
- Além da saúde ruminal, durante essa fase também temos a adaptação das papilas e da taxa de passagem dos alimentos;
- E, por último, a preparação dos órgãos e vísceras para que consigam metabolizar as dietas mais energéticas.

PREFERENCIALMENTE, A ADAPTAÇÃO DEVE SER FEITA NO SISTEMA DE ESCADA. NUNCA FAZER AUMENTOS DIÁRIOS NOS NÍVEIS DE CONCENTRADO!
- ADAPTAÇÃO PARA ANIMAIS NÃO-SUPLEMENTADOS NA RECRIA: inicie com 0,5% do PC e aumente a cada 3 ou 4 dias para níveis de suplementação a 0,75%; 1,0%; 1,25%; 1,50%; 1,75% do PC. Finalize o fornecimento com a quantidade de 2% do PC.
- ADAPTAÇÃO PARA ANIMAIS SUPLEMENTADOS NA RECRIA: se os animais da recria já recebiam previamente suplementação acima de 0,3%, proceda conforme a seguir. Inicie a adaptação com 1% do PC e aumentar a cada 3 ou 4 dias para níveis de suplementação de 1,25%; 1,50%; 1,75% do PC. Finalize o fornecimento com a quantidade de 2% do PC.
Um abraço e até nossa próxima prosa.
Por: Raquel Azevedo/Bióloga no mundo do agro – CRBio: 126402/02-D