A formação da microbiota intestinal nos primeiros dias de vida é um dos fatores determinantes para a saúde e o desempenho produtivo dos suínos. Segundo Brenda Marques, médica-veterinária e gerente técnica de suinocultura da MSD Saúde Animal, esse processo começa no momento do parto, quando os leitões são expostos aos micro-organismos presentes no canal vaginal da matriz e no ambiente de maternidade.
“A colonização intestinal é imediata e depende da qualidade microbiológica do ambiente. Se o ambiente estiver contaminado, há maior risco de desequilíbrio e surgimento de diarreias neonatais”, explicou Brenda. O uso preventivo de antibióticos no primeiro dia de vida, prática ainda comum em muitas granjas, interfere negativamente nesse equilíbrio. “O antibiótico não diferencia bactérias boas das ruins. Ele elimina ambas, gerando disbiose e fragilizando o sistema imunológico do animal.”
A profissional ressaltou a importância do colostro como primeira fonte de imunidade e de maturação intestinal para os leitões. “O leitão nasce sem nenhuma imunidade. A ingestão do colostro nas primeiras seis a oito horas de vida é essencial para sua defesa e também para o desenvolvimento intestinal”, pontuou.
A ambiência também desempenha papel fundamental. Temperaturas abaixo do ideal provocam imunossupressão e favorecem quadros de diarreia. “A maternidade deve estar limpa, seca e aquecida entre 32°C e 34°C. O frio impacta diretamente a saúde do leitão”, disse.
Outro ponto abordado foi a competição entre bactérias benéficas e patogênicas. “Probióticos atuam colonizando precocemente o intestino com bactérias boas, impedindo que as patogênicas se instalem primeiro”, explicou Brenda. A especialista citou a ileíte, causada pela bactéria Lawsonia intracellularis, como exemplo de patógeno com efeitos produtivos mesmo em infecções subclínicas. “Ela reduz a absorção de nutrientes sem necessariamente causar sinais clínicos, o que mascara os prejuízos zootécnicos.”
Entre as medidas práticas recomendadas para preservar a diversidade microbiana do intestino estão:
– Ingestão adequada de colostro logo após o nascimento;
– Limpeza e desinfecção rigorosa das instalações;
– Ventilação controlada e manejo de gases nas granjas;
– Evitar mistura de lotes em diferentes fases de crescimento.
A vacinação foi destacada como ferramenta estratégica para reduzir perdas e minimizar o uso de antimicrobianos. Vacinas administradas às porcas durante a gestação oferecem imunidade passiva aos leitões via colostro. “Imunizamos contra Escherichia coli, Clostridium perfringens tipo C e rotavírus tipo A”, explicou Brenda. Já a vacinação contra ileíte, realizada em leitões, tem apresentado resultados consistentes. “Mais de 60% dos suínos no Brasil já são vacinados contra essa enfermidade. Os ganhos de desempenho são visíveis mesmo quando não há sinais clínicos aparentes.”
Brenda também destacou o avanço nas ferramentas de diagnóstico, como PCR quantitativo e sorologia, que permitem identificar em que momento os animais se infectam e com qual carga bacteriana. “Essas análises orientam os protocolos vacinais e ajudam os produtores a mensurar o retorno do investimento”, observou.
A resistência antimicrobiana, tanto em saúde animal quanto humana, foi abordada como preocupação crescente. Brenda defendeu o uso consciente dos antibióticos. “Precisamos reservar essas moléculas para o tratamento, e não para a prevenção. É uma questão de saúde única: animal, humano e ambiente.”
Encerrando a entrevista, Brenda reforçou a importância da prevenção. “A máxima que diz que prevenir é melhor do que remediar continua atual. É válida tanto para os suínos quanto para nós, seres humanos.”

Por: Divino Onaldo/Agro & Prosa