Você pecuarista, já passou por alguma situação de calor intenso dentro da sua propriedade? Nesse dia específico, os colaboradores da fazenda observaram se o gado agiu de maneira estranha, não habitual? Em caso afirmativo, seus animais podem estar passando pelo estresse térmico, que ocorre quando os bovinos são expostos a altas temperaturas no ambiente e o organismo deles não dá conta de regular a temperatura corporal adequadamente.
Com o corpo superaquecido, esses animais apresentam sinais bem característicos, como: respiração mais acelerada (dissipa o calor); redução no consumo de alimentos (gera perdas na produtividade); aumento da temperatura corporal (causa febre e comprometimento de órgãos vitais); comportamento agitado (busca por água ou sombra); aglomeração perto de bebedouros (onde a temperatura do solo é mais baixa); diminuição da produção de leite (alterações hídricas, hormonais e na ingestão de alimentos).
De acordo com o zootecnista Leonardo Guimarães da Phibro Saúde Animal, calcular as perdas por estresse térmico é difícil, mas é possível fazermos uma estimativa. Ele exemplifica com os seguintes dados: um bovino que tenha um ganho médio diário de 145 gramas por quilo (1.000 gramas) de matéria seca (MS) ingerida em um único dia. Se esse boi deixar de comer 650 gramas de MS durante o período de calor intenso, a perda potencial (o que deixará de ganhar em peso) será de aproximadamente 94 gramas por dia. Ou seja, considerando um sistema de boitel em confinamentos de até 120 dias, o animal deixaria de ganhar cerca de 11,28 kg de peso vivo no total.
Dessa forma, para que seus bovinos não venham a sofrer com essas intempéries e causar prejuízos altamente significativos ao seu negócio, apresentamos o sombreamento natural como uma alternativa barata e simples com a finalidade de inibir ou amenizar a influência negativa do estresse térmico, em tempos de seca e ondas de calor de moderadas a severas em quase toda a extensão de nosso país.
O sombreamento de pastagens é a ferramenta de aclimatação mais adequada à realidade do pecuarista brasileiro, pois a plantação de composições arbóreas regionais e nativas no pasto ou piquetes é economicamente viável, além de ser um manejo ecológico e promover a sustentabilidade dos ecossistemas florestais no entorno da fazenda.
Essa provisão de áreas sombreadas nas pastagens serve de refúgio para os bovinos, evitando que os animais entrem em estresse térmico pelo calor, contribuindo para garantir a sanidade, o bem-estar e a máxima expressão da produtividade e das taxas de prenhez no rebanho. Sabe-se que, após o pastejo, o gado rumina de 5 a 9 horas por dia, preferencialmente em áreas sombreadas e mais frescas, manifestando um comportamento natural e de descanso da espécie ruminante. E, que o sombreamento é uma antiga técnica de manejo, velha conhecida da pecuária extensiva, que influencia muito – até os dias de hoje – no sucesso da moderna criação animal.
É importante salientar que as alterações climáticas recentes em nosso planeta, em grande parte provocada por mudanças naturais, têm influenciado grandemente na pecuária mundial, o que faz dessa técnica um instrumento indispensável para o sucesso da bovinocultura aqui no Brasil, um país essencialmente tropical (quente e úmido) a maior parte do ano.
Para implementar esse sistema sombreado você precisará considerar alguns fatores indispensáveis, como: uma média de 20 árvores bem espaçadas por hectare (pode ser menos unidades devido ao manejo, trajeto de maquinários e geografia da região); fatores sociais envolvendo hierarquia, dominância e territorialismo nos lotes; diferenças de tolerância ao calor entre raças e categorias. Então, se você quer uma pecuária mais assertiva no viés produtivo, reprodutivo e ambiental, forneça sombra natural, ventilação adequada e acesso constante à água fresca para os seus animais.
Por Raquel Azevedo. Uma bióloga no mundo do agro.
CRBio: 126402/02 / Extensionista Rural.