Região Centro-Oeste, 12 de fevereiro de 2025

Caso Carrefour pode afetar preço das carnes? Entenda

Frigoríficos suspenderam envio de carnes às lojas da rede francesa
A suspensão no fornecimento das carnes de frigoríficos brasileiros ao Carrefour gera dúvidas entre os consumidores — Foto: Wikimedia Commons

A suspensão no fornecimento das carnes bovina, suína e de frango de frigoríficos brasileiros ao Carrefour gera dúvidas entre os consumidores sobre a possibilidade de impacto à oferta ou aos preços das proteínas.

Especialistas ouvidos pela Globo Rural avaliam que, até o momento, não há expectativa de mudança nos preços das carnes no mercado como um todo. E a oferta também tende a se manter firme.

O movimento dos frigoríficos veio após declarações do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, que anunciou na última semana a suspensão da compra de carnes do Mercosul para as unidades da empresa na França. Em retaliação, a indústria brasileira iniciou um “boicote” e suspendeu novos contratos com o Carrefour no Brasil, até que o executivo faça uma retratação.

Impacto

“O consumidor simplesmente buscará a carne em outro lugar, mas não deixará de comprar”, afirma a diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel.

Na mesma linha, o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, acredita que os preços das carnes não terão alterações em função do embate entre Carrefour e seus fornecedores.

“Acho que o ciclo pecuário e de preços é mais forte do que isso. Também precisamos ver até quando essa mobilização vai durar e talvez não dure muito tempo”, analisa.

No varejo, o preço médio dos cortes de picanha caiu 6,3% de janeiro a 25 de novembro, para R$ 74,87 por quilo, conforme dados da Scot. O contra filé aumentou 13,2% no período, para R$ 54,97 por quilo. O valor do peito de frango resfriado saltou 52,2%, para R$ 21,10 por quilo, enquanto a asa avançou somente 0,4%, para R$ 20,24.

Do ponto de vista da indústria, Torres ressalta que o setor de carnes está em uma época em que a oferta está bem regulada, então essa produção que deixará de ir para o Carrefour pode ser toda redirecionada para outras redes de supermercado.

“Embora o Carrefour seja uma das maiores redes varejistas atuantes no Brasil, existem outras alternativas no mercado tão boas quanto para a indústria frigorífica”, acrescenta.

No segmento de carne bovina, grupos como JBS aderiram à suspensão de fornecimento. Nos setores de frango e suínos, fontes ouvidas pela reportagem informaram que também há adesão de grandes empresas, como a BRF.

Quem paga a conta

Quem deve sofrer um impacto deste conflito é a rede do Carrefour, que pode ter de 30% a 40% da oferta de carne bovina prejudicada, de acordo com fontes ouvidas pela Globo Rural.

A companhia pode enfrentar uma pressão temporária de custos devido à necessidade de buscar novos fornecedores para suprir as suas lojas. Essa adaptação pode elevar preços localmente em algumas unidades da rede.

De acordo com Tiago Maciel, da EQI Research, é difícil quantificar o impacto das medidas, mas, no geral, o evento é negativo para as ações do Carrefour.

“Não sabemos ainda quantos dias de estoque o varejista tem para operar normalmente diante do desabastecimento, nem se conseguirá encontrar novos fornecedores, ou se outros produtores se juntarão ao movimento”, afirma.

Maciel destaca que as operações no Brasil representam cerca de 40% do lucro operacional global do Carrefour. Assim, a reação dos frigoríficos brasileiros têm poder suficiente para pressionar a matriz internacional a revisar sua decisão de suspender a venda de carnes do Mercosul.

Riscos de médio prazo

A decisão do CEO global do Carrefour gerou uma reação de boicote que, além de afetar temporariamente as operações no Brasil, levanta uma questão estratégica para a rede: a sua dependência de fornecedores brasileiros no país. Estima-se que 80% das carnes vendidas pela empresa no Brasil sejam de frigoríficos locais, reforçando a necessidade de um rápido acordo para minimizar prejuízos.

Atualmente, o monitoramento interno não indica risco imediato de desabastecimento no Brasil, devido aos estoques armazenados.

A rede possui cerca de quatro dias de estoque de carnes in natura, incluindo cortes de alto giro como fraldinha, patinho, paleta e contra filé, tanto no varejo quanto no atacarejo. No entanto, o desabastecimento pode começar a ocorrer a partir de segunda-feira (25/11), caso a interrupção no fornecimento persista. A equipe do grupo está avaliando os impactos e ajustando os cálculos para os próximos dias.

Enquanto isso, o mercado brasileiro de carnes segue estável, com o impacto maior restrito à imagem do Carrefour e à logística de sua operação. A menos que a crise escale e envolva outros atores do setor, não há motivo para aumento expressivo no preço da carne em âmbito nacional.

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