Olá, amigo pecuarista! Estamos no período das águas e você NÃO PODE deixar para depois os ajustes na qualidade da pastagem. A hora é agora! Nenhum outro momento dentro do ciclo pecuário anual é tão importante quanto o tempo destinado ao manejo correto do solo e das forrageiras, principalmente para você que trabalha no sistema exclusivamente a pasto (extensivo ou intensivo). Nessa época, as regiões sudeste, centro-oeste e parte do norte do Brasil recebem fortes chuvas bem distribuídas pelos meses de outubro até meados de março do ano seguinte. Esse regime de chuvas traz mais volume ao leito dos rios, abastece aquíferos e reservatórios, deixa a vegetação mais viçosa e, por conseguinte, o pasto também fica mais verde, nutritivo, produtivo e visualmente atraente para os bovinos.
E se você quer aprender a ter um ganho médio diário (GMD) ideal o ano inteiro, esteja preparado para dar os primeiros passos no planejamento e iniciar a implementação do MÉTODO BOI 777 agora mesmo na sua fazenda. Mas, afinal de contas, o que é isso? O conceito do boi 777 é bem simples e intuitivo. Vamos entender? Há tempos, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA – Colina/SP) verificou que grande parte dos pecuaristas de gado de corte não estabelecem metas de produtividade, especificamente em relação ao peso de carcaça e idade ao abate. Após anos de estudo, pesquisadores dessa instituição desenvolveram o Conceito Boi 777, que é a produção de um animal com 21@ em até 24 meses de idade. O método é dividido em 3 etapas: ganho de 7@ na cria, mais 7@ durante a recria e a terminação ou engorda com 7@.

- Vamos ao que interessa. Como aplicar esse conceito dentro da porteira?
1° PASSO: invista em melhoramento genético, manejo sanitário e sanidade animal, controle dos indicadores reprodutivos de matrizes e touros, uma dieta nutricional balanceada, bebedouros limpos, com sombra e água fresca. O bem-estar animal é primordial para um ótimo desempenho. E não se preocupe se você está sem capital suficiente para investir em genética. Saiba que, antes do potencial genético, deve existir um manejo muito bem estruturado para os animais que você já possui. Portanto, extraia o melhor do que você já tem!
DICA: faça amostragem de colostro das vacas com frequência, utilizando o refratômetro de Brix (21% já indica um colostro de alta qualidade), realize a cura do umbigo diariamente (2x ao dia) e estabeleça piquetes maternidade próximos à sede para o monitoramento da vaca e cria nos primeiros dias de vida. Forneça capim fresco e água limpa ao bezerro a partir dos 3 dias de vida para estimular o desenvolvimento do rúmen. Não estenda o período da cria por muito mais de 8 meses.
2° PASSO: a recria deve ser realizada em 12 meses, a fim de que você não adie as metas, ficando desmotivado e comprometendo os futuros resultados da sua fazenda. Cuidando bem da parte nutricional, sanidade e reprodução do rebanho, você garantirá o nascimento e o desmame de bezerros mais pesados e saudáveis durante a 1° etapa do processo (a cria). Então, nesse período da recria, o seu trabalho será mais tranquilo. Aqui a sua atenção deve estar voltada para o período de desmama, que coincide com a época da seca. Para contornar essa situação, use suplementos proteico ou proteico-energético a 3% além do fornecimento da pastagem, que no período da seca fica com uma qualidade nutricional mais baixa.
DICA: a recria, com duração de 12 meses, dá um ganho médio diário de peso de aproximadamente 287 gramas/cabeça/dia*. Na época das águas, mantenha uma suplementação de proteinado a 1% com acesso a pasto de boa qualidade para os bovinos. Isso vai maximizar o ganho de peso. Faça uma análise bromatológica (em laboratórios como o 3Rlab) de amostras das forrageiras para ter certeza da quantidade de proteínas, energia e minerais presentes no capim. *Considerando 1 @ = 15kg.
3° PASSO: agora seus animais já passaram pela cria e recria, e estão chegando à fase de terminação. Aqui, é essencial que o pecuarista conheça o mercado consumidor para determinar as características dos animais que está produzindo, especialmente aquelas relativas ao acabamento de carcaça, idade do abate e rendimento de carcaça. A China, por exemplo, estabelece a idade limite de até 30 meses para o abate. Você já ouviu falar no “BoiChina”? Por outro lado, os consumidores brasileiros se preocupam cada dia mais com o bem-estar animal, acreditam que animais criados a pasto são mais sustentáveis e preferem carne com capa de gordura sem marmoreio. Ao cuidar desses 3 pontos, você garante uma carne de melhor qualidade e resultados econômicos satisfatórios.
DICA: um confinamento, com duração de 120 dias, dá um ganho médio diário de carcaça de aproximadamente 875 gramas/cabeça/dia*. O ideal é que os ganhos diários sejam ainda maiores, por causa dos recentes aumentos nos custos de produção e ágios. Por isso, opte por fazer uma reserva financeira para realizar a compra de concentrados e outros produtos na época das águas, quando a oferta desses insumos é bem maior do que a procura, os preços são mais baixos e melhor negociados. *Considerando 1 @ = 15kg.
E para finalizarmos a nossa conversa, é bom ter em mente que “mais importante do que o número de arrobas a serem produzidas em cada uma das etapas, é a definição da quantidade de arrobas que devem ser produzidas”, de acordo com a fala do professor Gustavo Rezende, um dos criadores do método Boi 777. Então, defina agora mesmo as metas realistas produtivas e reprodutivas que melhor atendam e se adaptem à estrutura da sua fazenda. Agindo dessa forma, você não se endividará com a compra de insumos caros, maquinários de alta performance e animais melhorados geneticamente, garantindo a sustentabilidade a longo prazo e a saúde financeira do seu negócio. Pontos-chave para você tomar nota:
1. tenha metas claras e reais; 2. mensure periodicamente o ganho de peso dos seus animais; 3. use planilhas e softwares para controle e registro dos resultados alcançados porteira a dentro. Tomando essas iniciativas, lidar com imprevistos deixa de ser um grande problema, além do controle e dos ajustes dentro de cada etapa do sistema ser mais eficiente e eficaz.
“O Brasil ainda é um país onde as pessoas acham muito, observam pouco e não medem praticamente nada”. Dr. Fernando Cardoso Penteado. Agrônomo, empresário e pecuarista.

Por: Raquel Azevedo. Bióloga no mundo do agro. CRBio: 126402/02